Aloysio Azevedo: ‘As ruas confundiram as centrais sindicais’

Em artigo, cientista político diz que as centrais sindicais não souberam interpretar corretamente o recado da população nas manifestações de junho.

24/07/2013

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Aloysio Azevedo, cientista político

A monumental Jornada de Junho do povo brasileiro, liderada por grandiosas manifestações espontâneas de rua e aplaudida pelas maiorias de moradores e trabalhadores, foi um flagrante contundente do descaso com que o Estado, as instituições e a classe política tratam os cidadãos, particularmente os mais necessitados. “O gigante acordou”, foi o brado ouvido em todos os lugares!

O Brasil não será mais o mesmo e a política, então tratada como atividade nauseabunda (apesar de ser “a mais alta atividade humana”), readquiriu sua dignidade pelas mãos dos brasileiros conscientes. O recado foi dado e o grande movimento refluiu com naturalidade, repassando as pressões renovadoras para as instituições incriminadas, dentre as quais se alinham os sindicatos e suas centrais.

Ao invés de utilizar o Dia Nacional de Lutas para uma ampla e profunda reflexão sobre a parte que lhes cabia na crítica das ruas, as centrais se deixaram levar exatamente pelas velhas e condenáveis práticas políticas, abrindo aos olhos dos trabalhadores suas questiúnculas partidárias (todos sabemos que o trabalhador não entra em bola dividida, pois sua força é sua unidade). Passeata ou bloqueio de estradas só é obra de trabalhadores em greve, armas ineficazes numa situação de pleno emprego…

O fato é que, a pressão das ruas confundiu a liderança sindical ao invés de chamá-la para a reflexão. Se tivessem parado para pensar, mesmo que em cima da hora, mas com a independência exigida pelos trabalhadores, as centrais poderiam ter pegado carona nas ruas de uma maneira hábil e com dignidade.

Bastaria modificarem, atualizando, um item frio de sua pauta, de tal maneira a adequá-lo à pauta das ruas: a jornada de 40 horas. Explicitada dessa maneira não mobiliza ninguém, já que a redução da jornada compete a cada categoria profissional, muitas das quais já operam com 40 horas e algumas com menos de 40…

O que está sendo roubado do trabalhador agora é o seu tempo livre, necessário à sua recuperação psicossomática (como assegura a CLT): 2 até 4 horas num transporte caótico e sujeito a chamadas pelo celular na hora do descanso! Essa era a pauta das ruas, que os trabalhadores precisavam (e precisam) que as centrais promovessem. Menos trabalho e o descanso de volta!

Só o crescimento econômico gera segurança no trabalhador! A redução da jornada de trabalho para 40 horas não induz necessariamente mais empregos aos olhos do trabalhador, mormente numa conjuntura como a nossa, em que a indústria se fragiliza. Ao contrário, o trabalhador sente o esgotamento desse modelo de estímulo ao consumo e apreciaria uma política de estímulo aos investimentos nas áreas carentes e apontadas pelas ruas. Isto sim, criaria empregos novos e segurança.

A política com P está de volta! Tudo deve ser revisto com essa mesma ótica! O trabalhador não é mais um pária, como era antes de Getúlio Vargas, ou um mero consumidor, como quer a globalização do sucesso e das celebridades. O trabalhador passou a ser protagonista da nossa história e quer ser tratado como um cidadão consciente e de pleno direito. Merece de suas lideranças maior clarividência. 

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