Dárcy Vera: ‘O Marco Civil da Internet e os nossos limites’

Em artigo, prefeita de Ribeirão Preto fala sobre as regras que estão sendo discutidas no projeto. "Defendo uma rede em que cada um se responsabilize por aquilo que posta e que esteja preparado para as consequências de suas atitudes", diz.

20/03/2014

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Dárcy Vera, prefeita de Ribeirão Preto (SP)

Montar um perfil em uma rede social é fácil. Com poucos cliques, qualquer um começa uma vida online. Pode curtir, compartilhar e comentar. Pode dar opiniões sobre qualquer assunto, protestar e dar início a movimentos. Pode também ser contestado, questionado e criticado.

Particularmente, gosto muito de redes sociais. Inclusive, já escrevi sobre isso. Gosto de internet e de tecnologia. Gosto da facilidade com que posso conversar com amigos, moradores de Ribeirão, e qualquer pessoa que me procura. Quem me conhece sabe que, sempre que tenho tempo livre, estou conectada. E até para meu trabalho, fico online. Despacho com secretários via e-mail e converso com a equipe por Skype.

A Internet está cada vez mais presente na vida de todos nós. Pessoal e profissionalmente. A própria Prefeitura de Ribeirão Preto possui canais de atendimento virtuais que hoje superam até as solicitações via telefone. Os pedidos online hoje são responsáveis por nossa maior demanda na Administração. E isso é muito bom. As respostas das equipes são dadas rapidamente. E até eu respondo pessoalmente as mensagens que me chegam. Procuro tempo no meu dia para fazer isso com frequência.

Com tanta gente usando as redes sociais e cada vez mais internautas em todo o mundo, as limitações do mundo virtual se tornaram motivo de discussão e, também, de discórdia. Há quem diga que deva haver limites para o comportamento na rede. Há quem diga que o mundo virtual deve, mesmo, ser uma terra sem lei.

O Marco Civil da Internet, que começou a ser discutido em 2009 no Brasil, é uma iniciativa para controlar o uso e limitar o acesso ao conteúdo da rede. Determina os deveres e os direitos dos internautas. Faz com que haja regras. Limita e organiza os acessos. Mas desperta dúvidas, manifestações e reivindicações. Fora os impasses políticos, a Câmara Federal deve voltar a colocar em discussão o projeto do Marco Civil na semana que vem.

Defendo uma postura de respeito entre os internautas na rede. Quando estou conectada, vejo que há ataques pessoais, ofensas e agressões todos os dias. Fui chamada de ditadora por contestar as postagens agressivas. Sim, entrei com uma ação contra o Google, por manter páginas com ofensas. Como exemplo de outros que já se sentiram invadidos na rede, estão a Carolina Dieckmann e a mulher do ex-presidente alemão Christian Wulff. São histórias que foram muito divulgadas. Há muitos ataques e tentativas de denegrir o outro. Acontece não só comigo, mas com qualquer um. Sejam com pessoas públicas ou não, crimes cibernéticos existem e estão cada vez mais presentes. 

Acho que a internet tem que ter limites. No nosso dia a dia, usamos o RG para nos identificarmos em qualquer situação. E na rede? Sou a favor de uma internet livre, mas com a possível identificação do Endereço IP, que é a referência do computador utilizado. 

Defendo uma rede em que haja liberdade para a publicação de conteúdo, mas também diálogo. Uma rede em que cada um se responsabilize por aquilo que posta e que esteja preparado para as consequências de suas atitudes.

Como no mundo real, nos responsabilizamos por aquilo que fazemos. Nessa segunda vida que resolvemos ter, online, também devemos ter as mesmas responsabilidades.

Assumir uma identidade que não é a sua, no mundo real, pode ser considerado falsidade ideológica. No mundo virtual, pode ser apenas mais um perfil fake, criado para propagar notícias falsas ou criar fatos. 

No mundo real, somos aquilo que fazemos e que construímos. No mundo virtual também. No mundo real, não podemos nos esconder atrás de máscaras, mas no mundo virtual é possível assumir qualquer outra identidade para construir uma nova história.

Defendo uma rede em que essas novas histórias possam ser contadas de maneira limpa, com respeito. Uma rede para todos. Para as crianças, os adultos e até os idosos, cada dia mais informatizados. Uma rede que mostre manifestações, reivindicações e respostas. Uma rede construída por todos, com mãos que deem um enter no futuro.

 

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