Henrique Meirelles: ‘Além do horizonte’

Em artigo, ex-presidente do BC avisa: é prudente que todos se preparem para esse cenário de aumento de juros global e possíveis problemas em países e empresas dependentes de alta liquidez e juros mais baixos.

15/12/2014

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Henrique Meirellescoordenador do Conselho de Política Econômica do Espaço Democrático e ex-presidente do Banco Central

A economia mundial vive momento importante, com várias evoluções relevantes que podem ter consequências de grande impacto.

A economia americana acelera, aumentando o consumo de combustível, mas o preço do petróleo cai. Já os emergentes desaceleram, especialmente a China. O mercado financeiro está extremamente líquido em função das políticas dos Bancos Centrais de EUA, Japão e Europa, mas grandes corporações têm dificuldades para colocar títulos de crédito no mercado para se financiarem. Qual é a inter-relação e a explicação desses eventos, alguns contraditórios?

A recuperação americana seguirá elevando a demanda, inclusive de petróleo.

Por outro lado, o aumento da produção de gás de xisto, petróleo e fontes alternativas baratearam a energia nos EUA e, depois, os preços internacionais do petróleo, estes também afetados pela estagnação europeia e a desaceleração dos emergentes. Nesse contexto, o preço de alguns minérios também caiu.

São mudanças que trazem fortes consequências às cadeias industriais ligadas a essas commodities, principalmente o petróleo. Elas abalam segmentos importantes da indústria mundial e impactarão também investidores e acionistas. Por outro lado, a queda do petróleo traz forte estímulo à atividade nos países importadores do produto.

Tudo isso ocorre após as injeções de liquidez terem elevado a procura por títulos de crédito nos países ricos, aumentando o preço desses papéis e reduzindo as taxas de juros a níveis abaixo dos indicados pelo Fed (o BC dos EUA), o que pode ter configurado uma bolha de ativos de crédito.

A insegurança com as dificuldades das indústrias da cadeia petrolífera e os problemas enfrentados por países dependentes de sua produção de petróleo podem ser um gatilho para o estouro dessa bolha, o que por sua vez poderia causar aumento das taxas de juros a médio e longo prazo, em linha com a prometida redução de liquidez do Fed.

É importante notar que o mercado já sinaliza a preocupação de investidores e começa a limitar a compra dos títulos de crédito.

Nesse cenário de incertezas, atores bem informados estão apreensivos com o risco de estouro da bolha, pois uma alta dos juros de curto e médio prazo nos mercados internacionais pode gerar perdas aos detentores dos títulos de crédito, além de encarecer os empréstimos aos tomadores.

É, portanto, prudente que todos se preparem para esse cenário de aumento de juros global e possíveis problemas em países e empresas dependentes de alta liquidez e juros mais baixos.

O ajuste nas contas do Brasil não poderia vir em momento mais adequado.

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