Henrique Meirelles: ‘De Keynes ao presidente’

Governantes que tentam impor suas visões de governo e de política econômica ao setor privado têm dificuldade de aceitar o papel central do segmento na geração de emprego e riqueza, diz, em artigo, o ex-presidente do BC.

25/08/2014

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Henrique Meirellescoordenador do Conselho de Política Econômica do Espaço Democrático e ex-presidente do Banco Central. 

O colapso da União Soviética e a queda do Muro de Berlim geraram mudanças importantes em diversos partidos socialistas na Europa e em outras partes do mundo.

O Partido Socialista espanhol é um bom exemplo das transformações. Após amplo debate, as propostas de estatização dos meios de produção e controle da economia pelo Estado foram abandonadas, adotando-se a economia de mercado e o uso da riqueza gerada pela economia privada para financiar o governo e os programas sociais da socialdemocracia europeia.

Muitos políticos e governantes, em diversas regiões do mundo, têm dificuldades de lidar com essa equação, já resolvida há algumas décadas na Europa e em outras regiões. Por trás disso está a dificuldade de aceitar o papel central das empresas privadas na geração de emprego e de riqueza em uma economia de mercado.

Na medida em que o Estado produtor fracassou, a produção é organizada e conduzida pelo setor privado e, para ser financiada, ela passa necessariamente pelo lucro. Este precisa ser regulado por meio da prevenção de monopólios ou oligopólios e do estabelecimento da concorrência visando o aumento da qualidade e a diminuição do custo. Quanto mais aberta for a economia, mais eficiente será esse processo.

Os governantes que tentam impor suas visões de governo e de política econômica ao setor privado têm grande dificuldade de aceitar este conceito.

Uma carta escrita pelo economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) ao presidente americano Franklin D. Roosevelt (1882-1945), na década de 1930, segue muito útil para orientar os políticos a lidarem com essas questões. Reproduzo um trecho (em tradução livre):

“Você pode conseguir que os empresários façam o que você gostaria, desde que os trate –mesmo os muito grandes– não como lobos ou tigres, mas como animais domésticos por natureza, mesmo que eles não tenham sido criados e treinados como você desejaria. É um erro pensar que eles sejam menos éticos do que os políticos. Se você os confronta e os deixa irritados, obstinados ou aterrorizados, como os animais domésticos tratados de maneira errada são capazes de ficar, a produção nacional não chegará aos mercados e, no final, a opinião pública vai reagir a isto”.

É uma carta extremamente útil, particularmente no debate eleitoral presente. É importante que os políticos entendam que no Brasil prevalece a economia de livre mercado. Portanto, deve-se propiciar as condições para que as empresas possam existir, crescer, criar empregos, pagar mais salários, gerar riqueza, pagar impostos e aumentar o padrão de renda do país.

Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 24 de agosto de 2014.

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