Henrique Meirelles: “Decisão de Ano-Novo”

Para o ex-presidente do Banco Central, o Brasil precisa enfrentar a questão fiscal e a volta da inflação ao centro da meta antes de dar novos passos: resolver o ambiente de negócios ruim e a baixa taxa de poupança.

29/12/2014

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Henrique Meirelles, coordenador do Conselho de Política Econômica do Espaço Democrático e ex-presidente do Banco Central

Um estudo efetuado pelo G20 há alguns anos, sobre as últimas décadas do século passado, comparou países que saíram de um patamar de renda baixa e deram um salto na sua capacidade de produzir e distribuir riqueza (como a Coreia do Sul e Cingapura) com países que ofereciam condições similares no início do período, mas que não conseguiram progresso significativo no mesmo intervalo.

A conclusão mais importante do estudo foi a de que o segredo do crescimento está relacionado à capacidade de definir os problemas mais relevantes para o aumento da produção e geração de riqueza e atacá-los decisivamente, de maneira focada e objetiva. Já os países de renda baixa, que são incapazes de definir os problemas mais importantes, ou tentam resolver a maior parte deles ao mesmo tempo não conseguem mudar significativamente sua capacidade de aumentar o padrão de vida da população.

Essas evidências aparecem com clareza na história. No Brasil do início dos anos 1990, os maiores problemas nacionais eram hiperinflação em primeiro, segundo e terceiro lugar. Ela foi enfrentada e controlada, abrindo caminho para atacar outros problemas. Foi então a vez da questão fiscal, enfrentada a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), consolidada em 2003.

Naquele ano, as prioridades estabelecidas foram a estabilização da inflação no centro da meta, a queda do endividamento público e a geração de saldos comerciais via crescimento das exportações, suficientes para corrigir os desequilíbrios e acumular reservas.

Hoje no Brasil as prioridades são a questão fiscal e a volta da inflação ao centro da meta, além do combate à infraestrutura defasada e à baixa produtividade. Há ainda longa lista de problemas a enfrentar, e é importante que sejam endereçados, mas é fundamental que as questões básicas sejam enfrentadas de maneira prioritária, focada e integral.

Só assim o país dará o próximo salto e poderá resolver os problemas seguintes da lista, como ambiente de negócios ruim, baixa taxa de poupança, burocracia e tantos outros.

E essa mesma lição pode ser aplicada à vida pessoal.

Por isso, é importante aproveitar este raro momento do ano em que todos nós dedicamo-nos a pensar em nossas prioridades.

Neste Ano-Novo, cada um deve definir suas questões pessoais mais importantes. Para uns pode ser uma mudança profissional, para outros, passar no vestibular, para outros ainda, um problema em suas relações familiares ou afetivas.

Uma vez definida a prioridade, será o momento de atacá-la e resolvê-la com força máxima. Depois, passamos ao foco seguinte.

Feliz Ano-Novo a todos.

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