Henrique Meirelles: ‘Depois da Copa’

Depois dos sustos nos preparativos da Copa, com muita coisa pronta na última hora, Brasil tem a oportunidade de promover os Jogos Olímpicos de forma a projetar um país com alta capacidade de organização. É o que diz, em artigo, o ex-presidente do Banco Central.

22/06/2014

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Henrique Meirellescoordenador do Conselho de Política Econômica do Espaço Democrático e ex-presidente do Banco Central. 

As emoções da Copa só aumentarão nas próximas semanas. Após o torneio, no entanto, o foco deve se voltar à Olimpíada do Rio, e é importante usarmos as lições do Mundial para uma organização vitoriosa em 2016.

O principal desafio da organização da Copa foi o número excessivo de participantes na construção de estádios, vias de transporte etc. Isso criou situação complexa e, algumas vezes, confusa. Existem arenas de clubes e de governos estaduais, com fontes diversas de financiamento. A mobilidade urbana envolve municípios e Estados. As comunicações envolvem operadoras de telefonia e outras empresas. Já o governo federal cuida dos aeroportos, do trafego aéreo e de outras responsabilidades.

A Copa é, portanto, trabalho complexo no qual diversos atores agem de forma independente e com muita inter-relação.

Já a Olimpíada traz desafios e oportunidades diferentes. Em relação às instalações esportivas, o nível de complexidade é muito superior. A construção de estádio de futebol é conhecida no Brasil. Já em diversas modalidades olímpicas, não há experiência técnica disseminada no país. Por outro lado, a Olimpíada ocorre só em uma cidade, e o município do Rio de Janeiro passou a ser o maior responsável pelas instalações esportivas.

A grande lição da Copa à Olimpíada até aqui é que o cronograma das diversas obras deve ser coordenado e seguido rigidamente. Esta também é a lição de Olimpíadas passadas, em jogos bem-sucedidos, como Barcelona, Sidney e Londres, que promoveram seus países, ou problemáticos, como Atenas, que prejudicaram a imagem da Grécia.

Essas experiências apontam que o caminho do sucesso é ter cronograma claro, organizado pelas diversas esferas envolvidas e que seja seguido rigorosamente. O Rio já tem esse cronograma. Agora é dar atenção cada vez maior à sua execução.

Em todas as Olimpíadas são usadas as cores verde, amarela, vermelha e preta para classificar os itens que estejam dentro do prazo, um pouco atrasados, muito atrasados ou que precisem de solução alternativa, no caso do preto, por ser impossível seguir o plano. Seria interessante a divulgação periódica das cores atribuídas a cada obra, pois permitirá que todos sigam de forma atenta sua execução.

Depois dos sustos nos preparativos da Copa, com muita coisa pronta na última hora, temos a oportunidade de promover outro evento global que projete um país com alta capacidade de organização. O sucesso esportivo e afetivo da Copa pode ser consolidado numa Olimpíada que de fato mostre um Brasil capaz de trabalhar de forma organizada e executar projetos complexos.

Esse foi o nosso compromisso com o COI em 2009. É hora de trabalhar duro e entregar o que foi prometido.

 

 

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