Henrique Meirelles: ‘Lições de 2003’

Em artigo, ex-presidente do BC defende um ajuste "integral" da economia, como foi feito há quase 12 anos; para ele, a medida é viável e precisa ser aplicada, sem levar em consideração opiniões catastrofistas.

22/12/2014

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Henrique Meirellescoordenador do Conselho de Política Econômica do Espaço Democrático e ex-presidente do Banco Central

Quando a nova administração assumiu em 2003, a avaliação era a de que o Brasil atravessava situação dramática, com pouca probabilidade de realizar ajuste bem sucedido por causa das dificuldades políticas para se enfrentar o alto custo social de um ajuste nas dimensões necessárias e do enorme desafio técnico e econômico.

O risco-Brasil precificado pelo mercado era de 1.400 pontos (hoje está abaixo de 300), a inflação era de 17%, a dívida pública total menos reservas internacionais passava de 60% do PIB (hoje está abaixo de 45%), a economia do governo necessária para reduzir essa dívida era da ordem de 4% do PIB e as reservas internacionais estavam abaixo de US$ 30 bilhões, valor equivalente ao da dívida de curto prazo com o FMI.

Tudo era consequência das dificuldades políticas do ajuste fiscal do governo anterior, finalmente iniciado com a Lei da Responsabilidade Fiscal, de 2000. A lei, mais o sistema de metas de inflação e o câmbio flutuante, foram respostas às graves crises do país e criaram a estrutura institucional para ajustes subsequentes.

A recuperação do país em 2003 passou por ajuste duríssimo. Não devemos fantasiar ou colorir aquela realidade. O consumo doméstico caiu 6% no primeiro semestre de 2003, a taxa básica de juros foi a 26,5%, e o desemprego, já alto, superou 13%.

Hoje, parece a alguns que o apoio ao ajuste de 2003 era sólido, o que não é verdade. Diversos setores sociais e políticos reagiram fortemente contra uma situação econômica difícil e tornada ainda mais dura pelo ajuste.

Por outro lado, havia a consciência de que não era mais possível seguir como estava. Como o ajuste foi executado integralmente, a economia começou a crescer já em junho de 2003 e, até 2010, o crescimento médio foi superior a 4% ao ano. A partir da fixação da meta em 4,5%, em 2005, a inflação ficou metade do período abaixo da meta.

É importante entender que não foi só obra de ventos favoráveis do ambiente externo. As commodities começaram a subir nos anos seguintes, mas os importados também subiram, e os chamados termos de troca só começaram mesmo a decolar a partir de 2007.

O futuro ministro da Fazenda conhece o bem-sucedido ajuste de 2003, do qual participou diretamente como secretário do Tesouro.

Mas é importante estar precavido contra a barragem de opiniões catastrofistas de que os ajustes passados foram mais fáceis e de que o atual seria terrível, já criando justificativas para não fazê-lo integralmente. O ajuste deve ser integral. Ele é possível, e a equipe sabe como fazê-lo. Mas, para isso, é fundamental explicar ao país que ele é viável, tem que ser feito e que seus resultados serão positivos.

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