Roberto Macedo: “Perspectivas para a economia em 2015”

O economista Roberto Macedo escreve que 2015 será um ano de transição e de recuperação, mas destaca um ponto relevante: a política econômica estará se movendo na direção correta.

30/12/2014

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Roberto Macedo, economista (UFMG, USP e Harvard), consultor econômico e de ensino superior e consultor do Espaço Democrático, a fundação para estudos e formação política do PSD.

O Brasil termina 2014 com seu Produto Interno Bruto (PIB) praticamente sem crescer, pois estimativas de seu avanço apontam uma taxa de apenas 0,2%.

Outros indicadores mostram graves problemas: inflação acima do teto (6,5% ao ano) da meta seguida pelo Banco Central (BC), de 4,5% ao ano. Contas fiscais do governo federal com déficit final perto de 5% do PIB, bem acima do limite de 2,5% aceitável internacionalmente. O setor externo, avaliado pelo balanço de transações correntes, que determina a necessidade de endividamento ou de cobertura com investimentos diretos externos, se deteriora continuamente, e está perto de 4% do PIB. Ainda que essa cobertura seja robusta e o Brasil disponha de grandes reservas, impõe-se conter essa sangria de recursos externos, para evitar crises cambiais no futuro.

A política monetária do BC por meses ficou tolhida para combater a inflação, como ao influenciar expectativas de empresários e consumidores quanto à sua taxa futura. Faltou-lhe também a indispensável colaboração da política fiscal, com uma disfuncional parceria de política monetária, em tese restritiva, com a área fiscal atuando de forma expansionista.

Tudo isso gerou um quadro de desconfiança que se refletiu em maior precaução ao consumir e investir, por parte das famílias, e numa postura contida dos empresários nos seus investimentos. Estes atuam como motor de um crescimento sustentável, pois significam expansão do emprego e compras de bens de capital e insumos produtivos, o que gera renda adicional na economia. Com isto, os trabalhadores disporão de mais dinheiro para realizar seus gastos, sem  recorrer tanto a endividamentos para expandi-los, como vinha acontecendo. Quando a demanda se expande com ênfase no crédito, ele acabará por comprometer a renda das famílias e o impulso creditício ao avanço do PIB.

Com todas essas dificuldades, impunha-se reorientar a política econômica, o que veio logo depois da reeleição da Presidente.  Primeiro, o BC voltou a ampliar a taxa básica de juros, a Selic, atuando assim conforme se espera delediante do quadro inflacionário atual.  Segundo, a “troika” econômica indicada, liderada por Joaquim Levy, de larga experiência em controle fiscal, prometeu reverter, a partir de 2015, os maus resultados que as contas do governo vêm apresentando, bem como abandonar a “contabilidade criativa” que ainda neste final de ano era utilizada para maquiar maus resultados, tornando-se destrutiva da confiança dos agentes econômicos com as consequências já apontadas.

Mas, essa equipe com um líder confiável por si só não garante sucesso no seu trabalho a partir de 2015. Bem vista pelo mercado financeiro, é preciso que ela vá além das preocupações maiores desse mercado, mais voltadas para o curto prazo, e centradas na estabilização econômica por meio do chamado “tripé”.  Este, composto pelas políticas de metas de inflação, de um superávit primário (receita menos despesas exceto juros) adequado e do câmbio flutuante.

Para voar bem o avião da economia requer estabilidade, e motores acionados pelo melhor combustível, os investimentos públicos e privados, ao lado de um plano de voo para chegar a uma aceitável altitude  do PIB.

Indispensável também serão as condições políticas e institucionais para a nova equipe econômica atuar com eficácia, no que a Presidente Dilma precisará ter um papel fundamental, mobilizando apoio tanto no Executivo, para executar a nova política econômica, como no Congresso Nacional, para medidas legislativas que venham a ser necessárias.

Mesmo assegurado o sucesso, 2015 será um ano de transição e de recuperação, para o qual não se espera hoje um crescimento do PIB superior a 1%. Contudo, relevante mesmo será ver a política econômica movendo-se na direção correta, ao contrário do descaminho pelo qual até aqui foi conduzida.

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