Como fazer o Brasil andar mais rápido

Ciclo de debatesDESATANDO OS NÓS QUE ATRASAM O BRASIL   Debatedores EDUARDO SCIARRA, líder da bancada do PSD na Câmara e coordenador do Conselho de Infraestrutura e Energia do Espaço Democrático. GUILHERME QUINTELLA, presidente da ADTrem (Agência de Desenvolvimento de Trens Rápidos Entre Municípios). VILMAR ROCHA, vice-presidente do Espaço Democrático e chefe da Casa Civil […]

31/07/2014

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Ciclo de debates
DESATANDO OS NÓS QUE ATRASAM O BRASIL

 

Debatedores

EDUARDO SCIARRA, líder da bancada do PSD na Câmara e coordenador do Conselho de Infraestrutura e Energia do Espaço Democrático.

GUILHERME QUINTELLA, presidente da ADTrem (Agência de Desenvolvimento de Trens Rápidos Entre Municípios).

VILMAR ROCHA, vice-presidente do Espaço Democrático e chefe da Casa Civil do Governo de Goiás.
Mediador

GUILHERME AFIF, vice-governador do Estado de São Paulo e presidente do Espaço Democrático.
Apresentador

RUBENS FIGUEIREDO, cientista político e diretor do Espaço Democrático.
 

Rubens Figueiredo: Boa noite! Estamos em São Paulo, na sede do Espaço Democrático, a Fundação para Estudos de Formação Política do PSD, o Partido Social Democrático. Hoje estamos realizando o quinto seminário do nosso ciclo de debates “Desatando os nós que atrasam o Brasil”. Também é possível acompanhar através do site www.psd.org.br.

O tema de hoje é “Como fazer o Brasil andar mais rápido”. A capacidade de investimento do estado brasileiro gira em torno 1,6% do PIB. Dados do setor privado indicam que nossas necessidades de investimento em infraestrutura são da ordem de 5% ou 6% do PIB, ou R$ 225 bilhões por ano. O Brasil tem a 7° maior economia do mundo, mas está em 48° lugar no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial.

Em alguns setores, como na área de transportes, os investimentos vêm diminuindo ao longo do tempo. A falta de investimento, este gargalo na infraestrutura, se reflete na vida das pessoas, no dia a dia dos brasileiros. Não é novidade que hoje, para pegar um avião, perde-se muito tempo nos aeroportos. Os portos encarecem as nossas exportações e importações. Dr. Guilherme Afif costuma dizer que nas nossas autoestradas, quando olhamos para o lado, nos deparamos com vendedores de água e de biscoitos. As ferrovias, hoje, estão praticamente sucateadas e, vez ou outra, nos deparamos com problemas de energia. Como superar esse quadro? Falar de infraestrutura é falar do futuro do Brasil, é falar de emprego, de desenvolvimento.

Participam do debate de hoje o vice-governador de São Paulo, presidente da Fundação Espaço Democrático e presidente do Conselho Gestor de Parceria Público-Privada do Estado de São Paulo, Dr. Guilherme Afif.

Conosco também o deputado federal Eduardo Sciarra, do PSD do Paraná, engenheiro, líder do PSD na Câmara dos Deputados e coordenador do Conselho Temático de Infraestrutura e Energia do Espaço Democrático. Foi também presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Infraestrutura Nacional.

Conosco também o empresário Guilherme Quintella, presidente da ADTrem, que é a Agência de Desenvolvimento de Trens Rápidos Entre Municípios, e chairman na América Latina da Union Internationale de Chemins de Fer, a UIC, que congrega as 200 maiores empresas ferroviárias do mundo. Ao meu lado, o deputado federal Vilmar Rocha, do PSD de Goiás, atualmente chefe da Casa Civil do Governo de Goiás e vice-presidente do Espaço Democrático.

De início, eu gostaria de convidar o dr. Guilherme Afif, nosso presidente, para dar as boas-vindas aos nossos convidados e falar um pouco sobre a importância desse tema.

Guilherme Afif: Muito obrigado, Rubens, obrigado aos internautas do Brasil todo que nos acompanham em mais esse seminário muito importante para os debates e a formação do nosso projeto de nação, projeto este que o nosso partido deverá debater em breve. E estamos aqui fazendo o trabalho de preparação para esse grande momento. Saúdo o meu amigo Vilmar Rocha, secretário-chefe da Casa Civil do Estado de Goiás, deputado federal, saúdo também o querido amigo Sciarra, que já foi apresentado, nosso líder, um dos grandes especialistas de infraestrutura em nosso País, e o empresário Guilherme Quintella, também nosso amigo, presidente da ADTrem, um grande especialista em projetos na área de trilhos. Aliás, o Brasil precisa andar rápido de volta aos trilhos.

Hoje nos estamos falando aqui a respeito de infraestrutura. Na apresentação, o dr. Rubens mostrou o baixo investimento do setor público no País. Hoje nós estamos aí num grande debate sobre o Pibinho brasileiro – “ahh, o PIB é pequeno, o Brasil não está crescendo”. Na verdade, hoje nós temos uma grande limitação desse crescimento, pelo fato de só investirmos – setores público e privado – 18%, 18,5% do PIB. Não passamos disso. E para o Brasil crescer a 3%, 4%, que é o mínimo desejável, nós precisaríamos investir 25% do PIB. Então, nos falta mais 7 pontos percentuais do PIB para investir. Só que nós não temos essa poupança interna. Nós vamos ter que buscar a poupança externa, não em forma de capital de empréstimo, mas sim abrindo a infraestrutura para a participação e exploração em forma de capital de risco.

E hoje o mundo tem muito dinheiro sobrando, há uma grande liquidez que acompanha a crise internacional, porque os países que outrora sempre açambarcaram esses recursos, hoje estão sem projetos. Então, no mundo falta projeto e sobra dinheiro. E no Brasil sobra projeto e falta dinheiro. Não que sobre projeto, é que não temos sido capazes o suficiente de colocar uma oferta de projetos estruturados para poder receber esses recursos.

E de mais a mais nós temos um outro problema de que se fala muito, do pacto federativo, da excessiva concentração de recursos em mãos do governo federal, não sobrando aos Estados e municípios, normalmente endividados e pagando um juro sobre a dívida descomunal, que acaba exaurindo ainda mais os seus orçamentos. Hoje, Estados e municípios mal têm recursos para cobrir o custeio, quanto mais falar em investimento de infraestrutura. Enfim, eu estou levantando os problemas exatamente para que a gente possa, através do debate, encontrar uma solução. E gente especializada nós temos. Portanto, é esse o introito e a saudação que faço com esse desafio.

Rubens Figueiredo: Eu gostaria de perguntar ao deputado Sciarra, nosso líder da Câmara Federal. O Brasil tem a lei 8666 e tem a possibilidade de implementar PPPs. Eu gostaria que o senhor explicasse um pouco quais são as diferenças entre a Lei 8666 e as PPPs, e quais são as vantagens, em termos de agilidade, desse segundo mecanismo, a Parceria Público Privada.

Eduardo Sciarra: Eu queria inicialmente cumprimentar a todos os participantes dessa mesa, em especial ao nosso condutor, vice-governador Guilherme Afif Domingos, dizer da satisfação de participar desse debate, dizer que estamos lá no Paraná também reunidos no Diretório Estadual do PSD sob o comando do nosso companheiro Ramiro Wahrhaftig. E respondendo objetivamente à pergunta, a lei 8666 é uma lei moralizadora, mas já ultrapassada no tempo, não atende nem as demandas da licitação normal da lei de licitações, já exaurida no tempo, com necessidades de alteração.

O Congresso Nacional se debruçou sobre essa matéria, mas por falta de consenso não houve uma alteração. Porém, não é a lei de licitações que vai resolver o problema de investimentos no País. Nós temos, sim, de criar um marco regulatório e regulamentá-lo. Aliás, está criado o marco regulatório das PPPs. Inicialmente, em 1995, a legislação contemplou a possibilidade das concessões e em 2004 nós aprovamos o marco regulatório das PPPs, que define a questão das PPPs administrativas e das PPPs patrocinadas. Porém, nós precisamos avançar nessa matéria. Temos que regulamentar e melhorar o projeto que foi, enfim, aprovado em 2004.

No ano de 2011, numa iniciativa da Frente Parlamentar em Defesa da Infraestrutura Nacional – em uma lei que tem autoria do deputado Arnaldo Jardim, e eu sou o coautor – tratamos da regulamentação, da melhor aplicação da legislação das PPPs. E o Congresso Nacional está debatendo essa matéria por entender que é fundamental que a gente tenha avanços, facilite os investimentos através das PPPs. Hoje nós temos a necessidade fundamental no País de avançar na questão da infraestrutura. Como foi dito aqui, a logística através dos investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias portos e aeroportos não só dará maior competitividade à nossa economia como vai facilitar a vida do cidadão brasileiro na medida em que a gente possa ter produtos mais baratos.

A questão do saneamento básico, que também tem um enorme campo a ser explorado pelas PPPs – se o investimento for bem feito nós teremos uma melhoria da condição de saúde da população, gastaremos menos com o atendimento médico.

E se tivermos investimentos na área da energia, investimentos e estabilidade, vamos, com toda certeza, fazer com que nossa economia cresça e possa gerar novos empregos. É fundamental para o País o investimento em infraestrutura. E as PPPs representam, sem dúvida, a oportunidade de trazer recursos que o Estado não tem, que a iniciativa privada pode e tem intenção de alocar, desde que as regras sejam claras, e desde que o marco regulatório possa dar segurança jurídica a esses investimentos.

Rubens Figueiredo: Dr. Guilherme Quintela, que é um representante da iniciativa privada, para haver PPP é preciso que exista o parceiro privado. Hoje, as empresas sentem-se confortáveis para realizar PPP? O que falta o poder público fazer para que esse mecanismo seja ainda mais estimulado?

Guilherme Quintella: Acho muito importante usarmos espaços como este para debatermos assuntos como a infraestrutura brasileira e formas de sermos mais competitivos diante dos desafios que o Brasil tem pela frente. Acho que a questão das PPPs é fundamental para o Brasil. Além de a iniciativa privada poder emprestar o recurso para o desenvolvimento da infraestrutura, ela também traz a sua capacidade de gestão, que hoje é tão importante quanto o recurso que está trazendo.

Temos que lembrar que no Brasil – e nos países, de modo geral –fazer investimento maciço em infraestrutura, como nós precisamos, em um período de democracia e de estabilidade econômica, é muito raro. Quando você pega a História do Brasil, a infraestrutura brasileira foi construída durante o Segundo Império e durante regimes de exceção. Porque a infraestrutura mexe muito com a sociedade. Ela tem um impacto muito grande na sociedade como um todo. Portanto, essa discussão, quando se vive num país democrático, acaba sendo mais difícil. Acho que há um grande desafio para o Brasil nesse momento, um desafio que não é só do governo, mas da sociedade brasileira como um todo, de implementar suas necessidades de infraestrutura, tanto na área logística, de energia, de telecomunicações etc, dentro desse ambiente democrático. Seria a primeira vez que o Brasil estaria enfrentando isso.

Acho que a iniciativa privada tem um papel fundamental porque hoje ela tem capacidade de alavancagem de recursos muito grande. A estabilidade econômica que o Brasil vem vivendo nos últimos anos permite essa alavancagem. E a iniciativa privada tem uma capacidade de gestão bastante eficiente porque ela não tem as amarras que o Estado tem. Então, acho que as empresas têm um papel fundamental nesse processo. Acho que a gente vê hoje, dentro das empresas públicas que estão recebendo esse investimento, um certo desconforto. O Estado precisa se preparar melhor para conviver nesse ambiente da Parceria Público-Privada porque a primeira preocupação que o investidor tem quando se envolve num projeto desse tipo é o risco – não é nem a rentabilidade, nem a remuneração do seu capital. E esse risco passa pela convivência com os entes públicos, que são responsáveis por isso. Então, acho que essa ainda é uma grande preocupação do empresariado brasileiro.

Rubens Figueiredo: Eu gostaria de destacar que em Goiânia o PSD local está reunindo em um hotel, mais uma vez, 90 pessoas para acompanhar o seminário. Organizados pelo Leo Razuk, lá estão os deputados estaduais Francisco Jr. e Frederico Nascimento; o secretário estadual de Infraestrutura, Danilo de Freitas; e o presidente da Goiás Parcerias, Evandro Habib.

Guilherme Afif: Eu queria elogiar o trabalho que o Vilmar Rocha está fazendo lá em Goiás, de reunir os setores para discutir conosco esse projeto. Aliás, fica como exemplo para todos os outros Estados brasileiros. Façam isso, porque eu acredito que utilizando essa forma moderna de comunicação nós vamos atingir um sem-número de formadores de opinião e de dirigentes nas suas áreas de Estado, o que é muito importante para esse grande debate no Brasil. Meus parabéns!

Vilmar Rocha: Nós temos aproveitado essa oportunidade do Espaço Democrático para aprofundar e discutir assuntos relevantes da vida do nosso País. Eu acho que se fôssemos sintetizar três grandes prioridades, três grandes desafios do Brasil para o futuro, eu citaria primeiro a questão institucional. Não a organização das instituições, porque elas já estão mais ou menos estruturadas, mas a funcionalidade das instituições. Por exemplo, o Congresso Nacional, hoje, não cumpre seu papel porque é disfuncional. Ele não cumpre suas finalidades. E assim também nós podemos ver o Poder Judiciário e outras organizações do Estado. Então, a questão institucional é relevante. O segundo é a questão da educação. E o terceiro é a infraestrutura. O Brasil não é um país, é um continente. Tem tudo por ser feito ainda em infraestrutura. O Estado brasileiro não tem dinheiro suficiente para investir em infraestrutura; nem a União, nem Estados, nem municípios. Então, é quase uma questão de lógica formal de que para fazer isso a gente tem que buscar quem tem dinheiro, e quem tem dinheiro é o setor privado nacional e internacional. Agora, por que as PPPs estão patinando? Por que elas apresentam poucos resultados até agora?

Eu participei da comissão especial – na época, inclusive, presidida pelo atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que era deputado federal – que estruturou, apresentou e finalizou o projeto da lei 11079/2004, que era a lei das PPPs. Já são quase dez anos. A nossa expectativa era que isso ia funcionar, mas não funcionou. Por que não funcionou, na minha avaliação? Primeiro porque nos temos uma questão cultural no Brasil. É uma certa desconfiança com o setor privado. Isso é cultural. A gente é muito ligado ao Estado. O Estado é que tem que fazer tudo, o Estado é que tem que prover tudo. Esse é um ranço cultural que ainda não está de todo superado no nosso País.

E o segundo é a falta de estruturação de bons projetos de Parceria Público-Privada. Hoje a gente não tem um órgão central, uma referência para esses projetos. Então, as parcerias estão caminhando devagar. Agora, parece que vamos agilizar isto, com experiências importantes aqui no Estado de São Paulo, no Estado de Minas Gerais, na Prefeitura do Rio, e algumas experiências menores em outros Estados. O próprio governo federal não conseguiu implementar no ritmo que era necessário essa questão das PPPs. Mas eu acho que o rumo é esse, o caminho é esse, e nós precisamos persistir nessa ideia e nesse projeto das Parcerias Público-Privadas.

Rubens Figueiredo: Eu queria informar que esse debate serve de subsídio para a elaboração do programa do partido no capítulo de infraestrutura. E no final perguntaremos aos nossos convidados: o que você acha imprescindível e inovador que o PSD deve incluir no capítulo de infraestrutura e desenvolvimento no seu programa partidário?

Eu gostaria de pedir aos internautas que nos assistem que respondam à nossa enquete. Em todo debate fazemos uma enquete para promover a interação com o público internauta. A enquete de hoje é a seguinte, se você ainda não respondeu: Em qual dessas áreas o Brasil precisa de mais investimentos? Estradas, ferrovias ou portos e aeroportos. Para participar, basta enviar um torpedo – letra A, estradas; B, ferrovias; C, portos e aeroportos – para o número (61) 8289-5555.

Vilmar Rocha: Eu acrescentaria aí hidrovias.

Rubens Figueiredo: Hidrovias, alternativa D.

Dr. Guilherme Afif, o senhor é presidente do comitê gestor aqui de São Paulo, das Parceiras Público Privadas. Como essas parcerias podem melhorar a vida das pessoas? Quais são os principais projetos no Estado?

Guilherme Afif: O Conselho Gestor de Parcerias Público Privadas foi criado exatamente para ser um coordenador das iniciativas do campo de Parcerias Público Privadas, com uma inovação: nós provocamos o mercado para apresentar propostas enxergando oportunidades que muitas vezes quem está na administração pública não vê. Então, isso abriu oportunidade para o privado apresentar propostas.

Agora, eu vou pegar aqui um gancho no que o Guilherme Quintella falou, de uma certa resistência nas máquinas públicas contra as PPPs. É reação corporativa. As corporações têm medo de perder o comando ou o controle. E vou dar nome aos bois: vamos falar do Metrô de São Paulo, muito eficiente, muito capaz. Só que agora, para cada linha que nós temos que fazer, temos que ter um parceiro diferente, com investidores diferentes. É o caso do projeto pioneiro da Linha 4-Amarela. Ela acaba de ganhar um prêmio do Banco Mundial como o melhor projeto de Parceria Público Privada, que foi uma experiência do governo de São Paulo há cerca de 6 anos e que está aí já funcionando. Inclusive, quando teve uma greve do Metrô, a única que não entrou em greve foi a Linha 4, mostrando a descentralização deste comando. Então, há uma resistência. Depois, a própria CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, que faz as linhas de subúrbio em São Paulo) resiste porque quer o controle de todo o sistema. E o que nós precisamos pensar hoje, claramente, é que nos temos que ter agências reguladoras para vários operadores entrarem e operarem com capacidade. Eu quero dizer claramente àqueles que nos acusam de estar querendo privatizar o setor público, que ninguém está privatizando coisa nenhuma, ele continua público. Uma PPP incorpora a governança corporativa privada no setor público, ou seja, com mais eficiência, mais agilidade para poder atender a demanda da população. E quando se faz a parceria, esse projeto é público. Tanto é, que tudo o que é investindo, pela própria lei, retorna ao patrimônio do Estado. É uma questão de combinação de capitais e operação para melhorar as condições operacionais. Então, há resistências e nós estamos enfrentando, mostrando os bons projetos.

O segundo ponto é muito sério e nós temos que atacar. Quando a gente faz uma PPP, aquela sociedade de propósitos específicos, por meio da qual é montada uma empresa especialmente para explorar aquela atividade, que vai permitir consórcios de vários operadores, vários construtores, nacionais e internacionais – eles se associam numa empresa para explorar uma atividade. Só que essa empresa é privada e passível de toda carga tributária existente no País. Só de impostos federais, entre Imposto de Renda, Contribuição Social Sobre Lucro Líquido, PIS, Cofins, dá cerca de 30%. Agora, imagine, é uma empresa que tem essa carga tributária e que vai cobrar uma contraprestação do Estado ou do município.

Então, o Estado ou município que estão contratando pagam tributo federal que acaba não retornando para o Estado e o próprio município. É uma armadilha que foi feita exatamente até para assustar. E hoje, o que nós precisamos? Desonerar, para que o Estado ou município que vão contratar uma parceria, uma PPP, não sejam forçados, na contraprestação, a pagar toda a carga tributária.

Outro ponto é o problema das garantias. E aqui foi dito com toda a clareza que um dos grandes problemas é a garantia. Porque nós estamos tratando de projeto de 25, de 30 anos. Quantas coisas não podem acontecer em 25, 30 anos dentro de um contrato? Então, quem vai investir… ele quer a garantia da estabilidade das regras do jogo daquele contrato. E hoje Estados e municípios não têm estrutura para dar garantia. E nós hoje queremos o quê? Que o Governo Federal passe a dar a garantia aos projetos de infraestrutura de interesse social de Estados e de municípios. Pega o exemplo, agora, de saneamento. Se não fizer isso, o saneamento não tem condição de ser implantado no Brasil; você não vai implantar saneamento lá de Brasília, você tem que implantar no município ou no Estado.

Eduardo Sciarra: É justamente isso que propõe o projeto que apresentamos na Câmara Federal. Porque na concepção das PPPs na legislação federal, marco regulatório de 2004, a criação do fundo garantidor das PPPs permitia tão somente que essas garantias fossem emprestadas a PPPs do Governo Federal. E nesta mudança de legislação, estamos propondo que as garantias possam ser dadas também a Estados e municípios. E que as contra-garantias possam ser vinculadas a recursos do Fundo de Participação dos Municípios e Fundo de Participação dos Estados. Por isso nós temos pouquíssimas PPPs no âmbito federal e um número maior de PPPs nos Estados e municípios. E esse papel do risco dividido também entre Estado e iniciativa privada… a iniciativa privada está assumindo os riscos de construção, os riscos de operação, e o Estado precisa assumir os riscos institucionais de um contrato de longo prazo e também das questões fiscais que envolvem isso. Por isso, é importante a gente aprimorar a legislação para dar condições de melhor funcionamento às parcerias.

Rubens Figueiredo: Gostaria de agradecer os participantes das redes, que durante toda semana nos alimentaram com perguntas: Jumir Baranowski, Isabela Severiano, Gilson Oliveira, Gustavo Cândido, Vanessa Senna, Dagmar Frísio, Janaína Regina, Gleice Tonon, Jeferson Mendonça e Dani Costa. Nós vamos, como já é uma tradição nos nossos debates, sortear exemplares do livro Em busca da Melhor Cidade – Análises, ideias e soluções para os Municípios do Brasil, que tem entre seus autores Alexandre Schneider, Gilberto Kassab, Ricardo Patah, Samuel Hanan, Túlio Kahn e Reinhold Stephanes.

Dr. Guilherme Quintella, os internautas têm aqui uma pergunta que se divide em duas: primeiro, o trem bala Rio-São Paulo é uma alternativa viável, existe demanda para um trem ligando o Rio a São Paulo? E outra, é uma visão saudosista do trem de passageiros: as pessoas gostavam de viajar de trem e hoje não existe mais essa possibilidade. Trem bala e trem de passageiro, por favor.

Guilherme Quintella: O trecho Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas é considerado pela UIC (União Internacional de Ferrovias) como o mais demandador para um trem de alta velocidade em todo o mundo. Não existe nenhum binômio entre cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, em nenhum lugar do mundo, nessa distância de 400 km – uma cidade de 11 milhões de habitantes, como é o Rio de Janeiro, e uma cidade de 18 milhões de habitantes, como é São Paulo – sem um sistema eficiente de transporte. E o problema do trem de alta velocidade Rio-São Paulo tem que ser visto dentro de um contexto do que o vai acontecer daqui a 10 anos. Se a demanda crescer 3% ao ano, daqui a 10 anos, para vir do Rio ou ir para o Rio aqui de São Paulo, terá existir um sistema de rodízio. Não tem como o sistema de transporte de hoje, que liga essas duas cidades, atender a essa demanda com o crescimento de 3% ao ano.

Então, é preciso encontrar uma solução para a ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, e aí a primeira solução que sempre aparece a nós brasileiros é a rodoviária. Essa não é eficiente. Nós temos hoje uma faixa de ocupação já muito densa no Vale do Paraíba. É uma região muito ocupada do País, e de pouca eficiência porque as rodovias vão acabar chegando aqui na Marginal Tietê, em São Paulo, e na Linha Vermelha ou na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, e não vão atender às necessidades de transporte entre as cidades. Quando vamos para o aéreo, sabemos que aqui em Congonhas estamos no limite operacional. Não tem mais nenhum slot disponível no aeroporto. Então, precisaríamos construir outro aeroporto aqui em São Paulo e outro aeroporto no Rio de Janeiro. O que sobra é o sistema ferroviário de transporte, e aí você tem duas alternativas. Uma é construir um trem de velocidade de 160 até 200 km por hora. Outra é fazer um trem de alta velocidade, que anda a mais de 300 km por hora. Do ponto de vista técnico, o que cabe nesse trecho é o trem de alta velocidade. Porque para fazer um trem que ande a 160 km por hora, o investimento corresponde a aproximadamente 80% do investimento de um trem de alta velocidade. A diferença do preço entre o trem que anda a 160 e o que anda a 300 por hora não é tão grande. A diferença é na infraestrutura que tem que ser feita. E estamos falando de um trem de alta velocidade que fará São Paulo a em 93 minutos, contra um de velocidade de 160 km que levaria algo como três horas. Quando você joga isso na demanda, não faz nenhum sentido construir nesse trecho um trem que não seja o de alta velocidade.

Especialistas apontam esse como o trem mais importante do mundo a ser construído. O professor Lopes Pitta, da Universidade da Catalunha, fala isso num livro que escreveu sobre trem de alta velocidade: se fosse para implantar o primeiro trem de alta velocidade do mundo, esse trem deveria ser feito entre São Paulo e Rio de Janeiro, que tem indicadores 10 vezes maiores do que o trem Osaka-Tóquio quando foi instalado e 20 vezes maiores do que o trem Paris-Lion quando foi também implantado.

Rubens Figueiredo: Quanto tempo demora um projeto desses para ficar concluído?

Guilherme Quintella: A licitação do modelo operacional, do operador e do responsável pelo fornecimento de tecnologia vai ser agora, dia 13 de agosto, e a operação do trem começa em 2019.

Rubens Figueiredo: O dr. Guilherme Afif tem uma ideia sobre a integração desse trem bala para regiões metropolitanas. O senhor quer explicar um pouco sobre isso?

Guilherme Afif: É um projeto de manifestação do interesse da iniciativa privada, não é um projeto do poder público. A iniciativa privada descolou a viabilidade e disse: eu coloco 70% dos recursos e o Estado só põe 30% para construir uma rede de trens intercidades que vai trabalhar junto com o trem bala.

Então, a ideia que está sendo apresentada aqui é um trem São Paulo-Rio de Janeiro que vem para uma estação central na Água Branca, aqui em São Paulo, no Centro, e se interliga com o metrô. Quem chega de trem só muda de plataforma para ir para outras localidades. Não precisa se deslocar de táxi, de automóvel. Chega de trem e já pega o metrô, como é em Paris e nas grandes cidades do mundo. Esse trem de alta velocidade vem para competir com o avião. Ele vai aliviar o sistema de transporte aéreo entre essas duas grandes capitais.

A iniciativa privada apresenta a proposta de fazer os trens intercidades. Esses trens não são como o trem bala. Vai competir com o automóvel. É trem que anda a 160 km por hora, para dar uma média entre paradas de 120 km por hora. Ou seja, aí, sim, nós vamos ter uma distância percorrida de no máximo 100 km em menos de uma hora. Hoje, nós temos muita gente morando neste entorno de São Paulo. Cerca de mil, dois mil ônibus de frete chegam à cidade todo dia trazendo essas pessoas que vêm trabalhar aqui. Outras tantas vêm de automóvel neste trânsito maluco que nós temos. Então, esse trem vai fazer Americana, Campinas, São Paulo, ABC e Santos. E outro, em cruz, que faz Taubaté, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba, São Roque… Portanto, é uma cruz pegando essa região. Só que vai operar na mesma estação do trem bala. Então, serve de hub, para capturar passageiros para aumentar ainda mais o volume de tráfego. Tudo isso já está aí apresentado. Esse projeto já está correndo e nós esperamos que em outubro possamos abrir uma grande licitação internacional, porque o mundo inteiro está de olho nesse complexo e trazendo capitais, não é utilizando os capitais públicos. Trazendo porque há retorno. Com uma tarifa real, há retorno. E essa tarifa real se torna altamente competitiva com o automóvel e o sistema de pedágios.

Vilmar Rocha: A nossa região Centro-Oeste, o Estado de Goiás, também tem grandes demandas de infraestrutura. Por exemplo, no setor ferroviário há um projeto em andamento de um trem de média velocidade entre Brasília, Anápolis e Goiânia. Esta região – Brasília, Goiânia e o entorno de Brasília –, a previsão é que agora, em 2015, 2016, já tenha um população de aproximadamente 10 milhões de pessoas. Nós podemos falar sobre as grandes hidrovias, projetos de hidrovias na bacia do Araguaia e do Tocantins. Na nossa região nós tivemos também um Barão de Mauá, que era o Couto Magalhães, que no início do século passado conseguiu financiamento inglês para fazer a tentativa de navegação da bacia do Araguaia. Agora, os projetos que estamos executando lá, são transportes coletivos, um VLT em Goiânia, e também estruturando projetos do sistema prisional. Eu acho que é uma área onde seria mais fácil implementar esses projetos. Ela é menos complexa do ponto de vista da estruturação dos projetos e execução, e todos nós sabemos que o sistema prisional no Brasil é um caos. É um sistema que é igual ou pior que na Idade Média.

Guilherme Afif: Masmorras.

Vilmar Rocha: Umas masmorras. Então, eu acredito que seria mais fácil, mais exequível, menos complexa, a estruturação e o avanço de PPPs no setor prisional, que é uma questão que tem que ser enfrentada e melhorada no Brasil.

Guilherme Afif: Eu só queria fazer uma complementação: no Brasil, nos anos 1930, quanto asfaltamos a primeira estrada de rodagem, entre o Rio de Janeiro e Petrópolis, nós já tínhamos mais de 30 mil quilômetros de caminhos de ferro. Nos anos 1930. E o Brasil foi o maior centro ferroviário do mundo, proporcional à população. Portanto, quando a gente fala em ferrovia, nós falamos de volta ao futuro.

É esse projeto que nós vamos fazer agora em São Paulo, dos trens… Por que dá pra fazer esse projeto? Porque o leito da estrada está lá, ele foi abandonado. Então, olhem lá em Goiás, olhem no Paraná, o que tem de trecho de estrada abandonada que a curto prazo nós podemos ocupar em PPPs nesse imenso pacote ferroviário que o próprio governo federal agora está autorizando, porque nós já chegamos num ponto calamitoso em termos de transporte da nossa safra, a safra do Centro-Oeste, para poder chegar aos nossos portos. Lá no Paraná, a mesma coisa. Tudo isso pode ser feito em parceria porque tem retorno em termos dos investidores. O que nós precisamos é ter agora a coragem com a mudança da legislação para fazer. Isso vale para o sistema prisional, como você está falando; construção de hospitais é possível, absolutamente, sim. Portanto, agora é ter a coragem e dar a segurança necessária para que os investidores possam fazer. E não vamos vir com essa conversa de que nós estamos privatizando. Não é privatização, é incorporação de habilidades privadas em projetos públicos.

Vilmar Rocha: E se nós ficarmos no sistema geral da Lei de Licitação, com os controles e a burocracia que temos hoje, isso vai nos dificultar muito a avançar na infraestrutura. Eu vou dar um exemplo concreto: a construção do Aeroporto de Goiânia foi feita através de licitação. Houve um problema de controle do Tribunal de Contas da União e a obra, iniciada, está há sete anos parada em função dos controles da burocracia. Parada há sete anos. A ferrovia Norte-Sul já era para ter sido concluída há muito tempo. Não foi, com prejuízos enormes. O sistema de concessão, ou de PPP, facilitaria a execução desses projetos e poderia torná-los, inclusive, muito mais baratos. O sistema de controle da lei geral de licitações e a burocracia no Brasil impedem que se façam obras de infraestrutura de forma eficiente a custos baratos e no tempo necessário, no tempo devido.

Guilherme Afif: A Lei 8666 nos obriga a fazer o pior pelo melhor preço. Aí a turma chuta o preço lá embaixo e depois não consegue cumprir, e aí vem o famoso ajuste. E aí, no famoso ajuste, nós sabemos como é que são as conversas. E aí, por conta das conversas dos ajustes, entram, então, os tribunais de contas para fazer a fiscalização da fiscalização. Então, obra que você programa para fazer com facilidade em dois, três anos… vai a sete, oito anos… taí o PAC que empacou exatamente por causa desses gargalos.

Eduardo Sciarra: Nós fizemos na Câmara um ajuste da Lei de Licitações, votamos numa comissão especial e está no Senado… empacou por conta de algum ajuste que tinha que ser feito e não foi dada sequência. Mas é fundamental que a gente faça uma reformulação na lei 8666 para atender a todas essas demandas que, nos últimos anos, se mostraram necessárias.

Rubens Figueiredo: Deputado Sciarra, você abordou dois pontos que são muito caros à nossa discussão aqui nesse Espaço Democrático. Um é a questão do federalismo dos municípios e outra a questão da PPP. Como estimular a PPP nos municípios, que são mais de 5.500, de forma que haja uma explosão de PPPs e uma melhoria significativa nas nossas condições de infraestrutura?

Eduardo Sciarra: A forma que temos de estimular as PPPs nos municípios e também nos Estados é através da mudança na legislação que permita, justamente, a contragarantia por parte dos municípios. A União poderia dar a garantia e os municípios fariam a contragarantia com recursos vinculados ao Fundo de Participação dos Municípios. Da mesma forma os Estados poderiam fazer. Seria, hoje, a forma de ampliar, e muito, a realização de PPPs nos municípios e nos Estados que não têm condições de dar a contragarantia, na maioria dos casos.

Rubens Figueiredo: Dr. Guilherme, chega uma pergunta do Rogério Rocha, de Goiânia. Ele diz o seguinte: o Fórum Econômico Mundial mede a qualidade de infraestrutura dos países e o Brasil marcou 3,6 numa escala que vai até 7, contra 5,5 da China, México e Chile, que nos venceram em estradas de ferro, estradas rodoviárias, portos e transporte aéreo. A pergunta dele é a seguinte: quais as experiências bem-sucedidas desses países que merecem ser incorporadas e adaptadas à realidade brasileira?

Guilherme Afif: Bom, primeiro, quando você fala em China, lá não tem democracia, não tem meio ambiente. Então, não dá para comparar porque eles fazem e acabou. Aqui, graças a Deus, nós estamos numa democracia, aperfeiçoando os instrumentos para que a gente possa enfrentar esses problemas. Só para a gente ter uma ideia sobre o porte da economia, o Estado de São Paulo é maior que a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e o Chile, juntos. O Chile tem uma escala muito pequena. É um grande país, excelente como forma de administração, mas é muito pequeno para o porte de comparação com um continente em implantação como o nosso. Então, eu acredito que as PPPs sejam o grande caminho em termos de busca do tempo perdido. Nós corremos atrás deste prejuízo para encostarmos em outros países, desde que não sejam ditaduras ou de muito pequeno porte.

Rubens Figueiredo: Dr. Guilherme Quintella, os investimentos privados que serão necessários para a implementação das PPPs… Qual a composição entre privados nacionais, internacionais e aportes do BNDES?

Guilherme Quintella: O BNDES tem um papel, nesse investimento, como financiador. Tanto no projeto do trem de alta velocidade como nos projetos ferroviários do plano integral de logística que o governo federal acabou de lançar, o BNDES participa com um aporte de 65% a 80%, mas em financiamento. É importante lembrar que o BNDES não dá dinheiro para ninguém. O BNDES empresta o dinheiro, cobra juro e você tem que pagar. O que o governo às vezes faz, e faz bem feito, é que esses juros sejam mais baratos para determinadas atividades que entende que são mais importantes. Como é o caso de ferrovia, que tanto o governo federal quanto os governos do Estado de São Paulo e outros têm estimulado bastante. Então, o BNDES acaba fazendo o papel de estimular isso com financiamentos mais competitivos. Do capital que sobra, do dinheiro que o investidor coloca, a gente imagina que o Brasil deverá trabalhar com algo como 50% sendo recurso nacional, recurso brasileiro, e 50% sendo estrangeiro. Eu não acredito que um investidor estrangeiro invista no país, numa PPP, sem que haja uma contrapartida de investimento nacional, local. Quem conhece o Brasil somos nós, brasileiros, e quem conhece o ambiente político, o ambiente econômico do País, somos nós. E não há nada que possa motivar mais o investidor estrangeiro que a própria demonstração do investidor brasileiro participando desse investimento. Hoje há uma quantidade enorme de recursos. Um dia desses eu li um trabalho da McKinsey (consultoria global) que dizia que o que se tem para investir em infraestrutura nos próximos dez anos, no mundo, é 40% mais do que foi investido em infraestrutura nos últimos 100 anos. Então, nós precisamos de recursos de todos os lugares, não dá para a gente abrir mão de recursos estrangeiros para esses investimentos.

Rubens Figueiredo: Dr. Guilherme Afif, chega aqui uma pergunta do Ricardo Bighetti. Ele fala que na campanha de 1990 – na verdade foi em 1989 – para a presidência da República, o senhor já ergueu a bandeira do transporte ferroviário. Dizem as más línguas que a indústria de carros, pneus e autopeças fez de tudo para inviabilizar a sua campanha. Depois de 23 anos, essa bandeira do transporte ferroviário é viável?

Guilherme Afif: Hoje a gente fala em intermodal. Todos os sistemas de transportes são importantes, desde que nós utilizemos as habilidades e capacidades de cada sistema de transporte em cada circunstância. Então, o caminhão combina com o trem, que combina com o transporte fluvial, que combina com o transporte de passageiros. A combinação dos sistemas de transportes é o que há de mais moderno no mundo. Então, não existe transportador rodoviário de carga, não existe transportador ferroviário de carga. O que existe é transportador de carga. E nós vamos utilizar os meios mais eficientes. O Brasil tem condições de implantar o sistema ferroviário, e na campanha de 1989 eu falava muito da Transpacífica, que não é por estrada de rodagem, é por estrada de ferro. Exatamente por quê? Porque o Brasil precisa de duas frentes: uma para o Atlântico e uma para o Pacífico, para poder concorrer com os Estados Unidos naquilo que têm de mais forte, que se chama agronegócio.

Todo mundo pensa que a força exportadora americana é o avião da Boeing. Não, é grão. E o Brasil é o grande competidor mundial. O que nos falta é sistema de transporte para competirmos. E hoje, na lavoura, as nossas culturas têm a maior produtividade do mundo. Nós só perdermos competitividade da porta da fazenda para fora, porque tem estrada onde não tem produção e tem produção onde não tem estrada. Então, este sistema, esta logística de transporte é fundamental para colocar o Brasil como o maior produtor de grãos do mundo e o maior produtor de minérios com a agroindústria e mínero-industrialização. Não temos um competidor mundial. O nosso grande competidor somos nós mesmos, se continuarmos sendo absolutamente ineficientes no trato de logística de transporte.

Rubens Figueiredo: Deputado Sciarra ou deputado Vilmar, quem se sentir mais à vontade. Essa vem de Joinville, Santa Catarina. O que falta alterar na legislação federal para ampliar o transporte por cabotagem, sendo que o Brasil tem uma imensa costa marítima a ser aproveitada?

Eduardo Sciarra: Hoje os custos da navegação de cabotagem no Brasil são das coisas mais gritantes que existem e que sem dúvida nenhuma atrasam também a resolução do problema do transporte marítimo. Hoje nós temos, pelos custos de cabotagem, a seguinte relação: chega mais barato um trigo da Argentina em Fortaleza, para atender aos moinhos do Ceará, do que o trigo que eventualmente sai do Paranaguá para a Bahia, por exemplo, ou qualquer outro porto brasileiro.

A legislação de cabotagem está sendo modernizada neste momento e o próprio governo federal está trabalhando para que isso aconteça. É um debate que interessa muito ao agronegócio brasileiro, mas não só ao agronegócio. É um investimento que precisa ser feito. Não é expressivo, é, sim, uma mudança na legislação e nas práticas do próprio executivo com relação a essa matéria.

Guilherme Afif: Se continuar assim, é navegação de sabotagem.

Rubens Figueiredo: Temos aqui o resultado da nossa enquete. Em qual dessas áreas o Brasil precisa de mais investimentos: estradas, 36%; ferrovias, 43%; portos e aeroportos, 21%.

Vilmar Rocha: Há um certo equilíbrio, aí, né?

Guilherme Afif: É, mas a ferrovia ganhou porque ela está no coração do brasileiro. Brasileiro é saudosista.

Guilherme Quintella: O dr. Afif falou a respeito da malha ferroviária brasileira: nos anos 1930 já tinha 30 mil quilômetros de ferrovias, quando a primeira estrada foi asfaltada. E hoje o Brasil tem 250 mil quilômetros de estradas asfaltadas e 15 mil quilômetros de ferrovia operacional. Então, nós diminuímos a ferrovia e aumentamos muito a rodovia. E aí um internauta fez uma pergunta para o vice-governador também a respeito de indústria do pneu, a indústria do caminhão, enfim… sabotando a candidatura dele. Acho que vale a pena a gente discutir um pouquinho o que aconteceu com a ferrovia.

O Brasil é um País ferroviário por natureza. Termos os Andes a Oeste e a Serra do Mar e da Mantiqueira em boa parte do território nacional a Leste. Nossos rios correm no sentido Norte-Sul. E a gente tem um grande problema, porque o nosso Mississipi, que é o rio Paraguai, não desemboca no Brasil, desemboca na Argentina. Então, não dá para usar um rio que desemboca na Argentina para escoar um produto brasileiro, não é? Mesmo com um Papa argentino, não estamos preparados para isso aqui no Brasil. Então, precisamos ter a ferrovia que corte o País no sentido Leste-Oeste, que pegue essa carga, essa produção agrícola que o dr. Afif estava falando, e leve para os portos e para os grandes centros consumidores.

E o Brasil é um país ferroviário por natureza, a vocação do país é a ferrovia. Tanto que foi o segundo país do mundo a ter ferrovia, num esforço já de PPP do governo do Segundo Império. O investidor, o Barão de Mauá, e os outros, investiam em ferrovia e o governo garantia uma rentabilidade mínima. Estou falando de 1850, e foi por causa disso que se implantou uma malha ferroviária enorme no país. E essa malha ferroviária foi crescendo. Para os senhores terem uma ideia, nos anos 1960, o Brasil tinha 60 milhões de habitantes e eram transportados por ano 100 milhões de passageiros. Cem milhões de passageiros por ano. Dez milhões só entre Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, a ponte aérea transporta 4,5 milhões de passageiros por ano. E o que aconteceu com a ferrovia? Aconteceu que logo depois da guerra (Segunda Guerra Mundial) nós mudamos a política brasileira de transportes. Nós tínhamos uma política que era coletiva e pública, privilegiando o transporte ferroviário desde a época do Império, e passamos a ter uma política privada e individual.

Resultado do american way of life. Nós recebemos o financiamento para construir uma usina siderúrgica – ganhamos de presente uma usina siderúrgica – e na verdade era para fabricar aço para vender carro. Depois vieram se instalar aqui as indústrias americanas que fabricavam carro. E mudamos essa política de transportes. Ainda bem que o Brasil investiu em estradas e rodovias e nós conseguimos interiorizar esse País. Há poucos anos, quando a gente falava Bauru, era o fim do mundo, onde acabava o Brasil. E hoje o Brasil é um país continental, que atravessa essa grande região do cerrado, da produção do cerrado, graças ao caminhão. Também instalamos aqui uma indústria aéreo-espacial de primeiríssima linha. Graças a essa política é que nós temos a Embraer, aqui, que é um orgulho para todos os brasileiros pela competência. O que nós não deveríamos ter feito é sucatear a ferrovia. Isso foi uma coisa muito errada e agora estamos recuperando com esses projetos de PPP que estamos instalando no Brasil.

Rubens Figueiredo: Bom, infelizmente, estamos chegando aqui ao final do nosso seminário de hoje. Interessantíssimo. Com muitas possibilidades de investimento no Brasil, com capitais internacionais disponíveis e uma legislação que tem se aprimorado.

Sorteados que ganharam exemplar do nosso livro Em Busca da Melhor Cidade: Rogério Rocha, Goiânia; Wendel Medeiros, do Rio de Janeiro; e Marcos Boettcher, de Joinville, Santa Catarina.

Uma rodada final de perguntas. Eu peço que cada um seja bastante breve, pois já estamos estourando nosso tempo. O que é imprescindível que o PSD coloque no capítulo de infraestrutura de seu programa partidário?

Vilmar Rocha: Bem, primeiro, o partido, aqui, pela presença de nós todos, faz uma opção política pelo modelo de PPPs de concessão, de parcerias com o setor privado. Isso é uma opção política forte. E nós temos que persistir nessa meta. Às vezes vamos devagar, mas de forma mais sustentável. Mesmo atrasados os projetos de PPPs começam a se desenvolver em vários Estados brasileiros e nós devemos manter o discurso e a meta de usar a modelagem das PPPs e das concessões para enfrentar a questão da infraestrutura no Brasil. Eu não vejo outra alternativa viável a curto e a médio prazos a não ser esta. Acho que melhorar a legislação, aperfeiçoar a legislação, criar uma ideia central – eu não digo um consenso, mas uma maioria –, vencer esses obstáculos da natureza cultural ou corporativa, que ainda estão muito impregnados em nós, uma certa reação a esse tipo de parceria… é uma coisa cultural vencer isto. A gente, quando está no rumo certo, pode ir um pouco mais devagar, mas a gente chega lá. Então, acho que o partido deve, conceitualmente, sustentar politicamente, legislativamente, essa ideia das PPPs, essa modelagem das parcerias com o setor privado.

Rubens Figueiredo: Nosso líder do PSD na Câmara Federal, deputado Eduardo Sciarra, por favor.

Eduardo Sciarra: Eu deixo duas sugestões. Uma delas diz respeito à urgente necessidade de termos um marco regulatório para o licenciamento ambiental das obras de infraestrutura. Não é possível não ter um prazo estabelecido, um prazo máximo estabelecido para que órgãos de licenciamento ambiental digam sim ou não a respeito de determinado projeto. Nós temos que ter data para que esse licenciamento saia, aconteça ou, se não, as razões, quais sejam, de modificações. Hoje não existe prazo definido e isso tem prejudicado muito esses investimentos. Do ponto de vista prático a gente deixa essa mensagem. O estabelecimento de um marco regulatório para o licenciamento ambiental das obras de infraestrutura. E do ponto de vista institucional, o fortalecimento das agências reguladoras. Ao longo desses últimos dez anos houve tentativas de tirar a autonomia das agências reguladoras. É fundamental que as agências reguladoras tenham autonomia e independência para poder justamente fazer esse papel de interface entre os consumidores, o governo e os agentes privados que são, enfim, operadores dessas concessões.

Rubens Figueiredo: Dr. Guilherme Quintella, suas considerações finais e uma opinião sobre como o PSD deve se conduzir nesta questão.

Guilherme Quintella: Bom, com tantos políticos competentes, fico constrangido de dar uma opinião de como o partido deveria agir com relação à PPP. Temos aqui pessoas com bastante experiência nessa área. Mas eu acho que uma coisa importante é esse tipo de debate. É a primeira vez que eu participo de um debate desses. Fico muito satisfeito. Acho que é importante a gente ir para a frente do ouvinte, do eleitor, e falar abertamente, sem vergonha, sobre PPP. Na semana passada eu estava em Brasília e na hora em que eu fui sair do hotel, havia uma movimentação das centrais sindicais que estavam em Brasília para se manifestar contra a Lei dos Portos. E uma das marchas das centrais sindicais era: abaixo a PPP. Contra a PPP! Como se a PPP fosse uma grande vilã, que não pudesse gerar benefícios como o dr. Afif acabou de falar agora, da Via4 ou de outras empresas que estão no Brasil graças a esse modelo de concessão.

Então, acho uma coisa importante esse papel de não ter vergonha da PPP. Pelo contrário, acho que a PPP é uma solução para os brasileiros. Tem que ser regulamentada e fiscalizada. Mas eu acho que esse tipo de debate, aqui, é fundamental para que a gente alcance os objetivos que o Brasil precisa e merece.

Rubens Figueiredo – Dr. Afif, suas considerações finais, por favor.

Guilherme Afif: Bom, alinhado com tudo aquilo que disseram os meus companheiros, eu só complementaria com a proposta da desoneração tributária dos projetos de PPPs em projetos de infraestrutura de interesse social. Vamos pegar como o exemplo o saneamento, que pagaria 30% de tributos. É isso mesmo. Quando, na verdade, deveria ser o contrário, né? Porque saneamento é fundamental como infraestrutura básica para o desenvolvimento social. Isso é saúde. Então, estou dando um exemplo mais extremo para mostrar que agora, ao invés de desonerarmos geladeira, televisão, automóvel, vamos desonerar os investimentos de infraestrutura de interesse social. Nós vamos dar uma arrancada para o Brasil. E o que precisam as lideranças sindicais entenderem é que projetos de PPP com investimento significam muito mais empregos e geração de renda. É isso que precisa ficar muito claro. Chega de proteger corporações, interesses ou privilégios. Nós temos que atender a demanda e as necessidades da população.

Rubens Figueiredo: Com isso nós terminamos mais um debate da série “Desatando os nós que atrasam o Brasil”. Gostaria de agradecer ao deputado Vilmar Rocha, presidente Guilherme Afif, deputado e líder Sciarra, empresário Guilherme Quintellla, participação que nos deu muita luz sobre essa questão de investimento em infraestrutura. Gostaria de agradecer à plateia aqui presente, à nossa equipe de transmissão, os diretórios do partido que se reuniram para discutir sobre esse debate que aconteceu hoje e às pessoas que acompanharam de todo o Brasil.

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