Guilherme Campos critica descaso de governo paulista com crise hídrica

Para Agência Nacional de Águas, desabastecimento em São Paulo é fruto de otimismo injustificado do governo; "persistência em olhar para o futuro de maneira otimista colocou São Paulo numa situação pior do que deveria".

13/11/2014

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O deputado Guilherme Campos entre Vicente Andreu Guillo (ANA) e Sandra Akemi Shimada, procuradora Regional da República.

“A situação hídrica de São Paulo está se agravando. E, enganar a população dizendo que s situação vai se resolver é muito preocupante”. A afirmação foi feita pelo deputado Guilherme Campos (SP), líder em exercício do PSD, nesta quinta-feira (13), em audiência pública que discutiu a postura adotada pelo governo do estado diante da crise de abastecimento registrada em vários municípios. 

O deputado convocou a reunião na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) para escutar os representantes dos órgãos envolvidos e tentar encontrar uma solução para o problema. Porém, dos nove convidados, apenas a procuradora Regional da República, Sandra Akemi Shimada e o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, participaram do debate. Nenhum representante do estado compareceu. Faltaram representantes do consórcio que gerencia a bacia que abrange os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Esses são os principais rios que abastecem tanto o Sistema Cantareira de Barragens, que abastece a capital paulista, quanto as maiores cidades do interior, na região de Campinas. “Esse descaso é uma prática recorrente”, destacou Campos. 

De acordo com Guillo, o nível do sistema Cantareira chegou a operar, pela primeira vez, com menos de 5% da capacidade. “Infelizmente, as chuvas não estão ocorrendo e a operação dos reservatórios sem medidas mais restritivas aumenta significativamente os riscos no futuro.” 

Segundo ele, a agência vê necessidade de tornar mais transparente a condição hídrica do estado para a população. “Mensagens que levam a uma avaliação de que já houve uma superação da crise porque estamos no período de chuvas são desmobilizadoras da necessidade de se reduzir o consumo de água. Somente um dilúvio poderá mudar a situação caso medidas de controle não sejam adotadas.” 

A procuradora Sandra Akemi afirmou que 12 inquéritos civis públicos e quatro ações civis já foram impetrados para apurar as responsabilidades da crise hídrica. “Gestores e sociedade precisam dialogar, assim como é preciso adotar medidas de contingenciamento”. 

Para Campos, o diagnóstico apresentado não é pessimista, mas sim realista. “A administração paulista tenta vender um cenário otimista. A realidade, no entanto, não nos permite pensar em algo que não passe por uma restrição ao uso da água cada vez mais acentuada, além da realização de obras emergenciais. A situação é catastrófica.” 

Arte: Agência Câmara

“O governo de São Paulo fez uma opção pelos paulistas que moram na capital, e deixou à míngua os paulistas do interior”, desabafou Campos. Segundo ele, pelo menos 35 municípios do estado de São Paulo já decretaram o racionamento de água. A cidade de Itu, por exemplo, sofre há quatro meses com a falta d’água. “Se não houver um dilúvio, vai faltar água. A falta com a verdade do governo para enfrentar a crise joga com otimismo para chuvas futuras”, disse.

Para Guillo, foi a persistência em olhar para o futuro de maneira otimista que colocou São Paulo numa situação pior do que deveria. “As decisões deveriam ser tomadas num cenário mais conservador, mas o governo de São Paulo agiu como se estivéssemos num período de normalidade, e não estamos”, disse. 

Para demonstrar esse otimismo irreal, Guillo mostrou que, na justificativa enviada à ANA pela Sabesp, empresa responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 364 municípios do Estado de São Paulo, para utilização do volume morto do Sistema Cantareira, a empresa fez uma projeção de 15 m³de água entrando nos reservatórios para o período logo posterior, mas na realidade a entrada foi de menos de 4 m³. 

“Além disso, não podemos fazer administração do volume morto como se ele não fosse para uso em emergência, isso é a projeção de futuro que se adapta às medidas que estão sendo tomadas no curto prazo”, disse.

Volume morto é o volume de água que está estocado em barragens, abaixo do que é usado para abastecimento, compensando tempo de chuva com tempos de seca, e não deveria ser usado. Pelos dados da ANA, o Sistema Cantareira não tem 11% de reserva como anunciado: ele está com 20% negativo do seu volume. “A consequência é que você perde o controle do seu sistema hídrico, e fica dependente exclusivamente do regime de chuvas”, disse. 

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