PSD ultrapassa PT com o 3º maior número de prefeitos

Valor Econômico (25/10/2011) - Levantamento feito pelo jornal nas 27 unidades da Federação indica que o partido filiou entre 656 e 712 prefeitos.

25/10/2011

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Valor Econômico

O recém-criado PSD busca ultrapassar os tucanos como terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, mas a temporada de filiações do partido terminará amanhã com um resultado que atinge diretamente os petistas. A legenda capitaneada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já nasce como a terceira maior em número de prefeitos e empurra o PT para a quarta colocação. De acordo com levantamento feito pelo Valor nas 27 unidades da Federação, o PSD filiou entre 656 e 712 prefeitos. Os números variam em razão da possibilidade de novas adesões, mas devem superar em mais de cem o total de 560 prefeituras petistas.

O PMDB e o PSDB são os partidos que dominam o plano municipal. Elegeram, respectivamente, 1.199 e 790 prefeitos na eleição de 2008. Como dezenas de trânsfugas são tucanos, é possível até que a sigla de Kassab ultrapasse o PSDB ou fique bem próximo da segunda posição. Até o fechamento desta edição, a grande maioria das direções estaduais do PSD ainda não tinha uma lista fechada com os nomes e a origem partidária dos prefeitos filiados.

Mas já se sabe que entre os maiores perdedores estão PSDB, PP, PR, PPS, PMDB e principalmente o DEM. Em Santa Catarina, todos os 42 prefeitos saíram do DEM e rumaram com o governador e correligionário Raimundo Colombo para o novo partido. Em Tocantins, liderados pela senadora Kátia Abreu e o vice-governador João Oliveira, 15 de 31 debandaram da legenda. Na Bahia, mais da metade dos 40 prefeitos que a sigla tinha acompanharam o vice-governador Otto Alencar, que estava no PP mas é um dos expoentes do carlismo, grupo do ex-governador, senador e cacique político do DEM Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007.

O estrago causado pelo PSD rebaixa de vez o partido que já foi considerado o rei dos grotões, com mais de mil prefeituras país a dentro. Em 2008, o DEM já havia sido ultrapassado pelo PT e PP, caindo do terceiro para o quinto lugar no ranking. Agora, deve ser superado por PTB, PR, PDT e até PSB, além, é claro, do PSD, caso as baixas sejam semelhantes aos 39% de perda de bancada que ocorreu na Câmara dos Deputados. Neste caso, ficaria em 10º lugar, com cerca de 300 prefeitos. O número é menos da metade que terá o PSD.

As perdas do DEM para o novo partido foram em quantidade e em importância. Dos cinco municípios entre os cem maiores do país conquistados pelo DEM em 2008, quatro prefeitos migraram para o PSD: Kassab, de São Paulo; Dárcy Vera, de Ribeirão Preto (SP); Marco Aurélio Bertaiolli, de Mogi das Cruzes (SP); e João Paulo Kleinübing, de Blumenau (SC).

Mas até petistas foram pegos pelo arrastão do PSD nas prefeituras. No Amazonas, onde o governador Omar Aziz comanda a legenda, dois dos seis prefeitos do PT mudaram para a nova sigla: João Braga Dias, de Amaturá, e Raimundo Nonato Souza Martins, de São Paulo de Olivença.

“Não estava insatisfeito no PT. Foi um convite do governador, que é parceiro dos prefeitos. Se eu não aceitasse, a oposição é que ficaria com o partido do governador”, conta Martins, que foi a Manaus, distante 982 km de seu município, para tratar da transferência com Omar Aziz.

Não à toa, o Amazonas está entre os Estados campeões, em termos proporcionais, de filiação de prefeitos. São 17 num total de 62 municípios (27%). Fica atrás de Mato Grosso (35%) e Ceará (29%).

Curiosamente, no espaço político de Kassab, o desempenho é um dos piores: dos 645 prefeitos de São Paulo, no máximo 30 (4%) devem migrar para a sigla do colega da capital. Apenas Rio Grande do Sul (1%) e Mato Grosso do Sul, que não filiou nenhum prefeito, tiveram menos adesões.

Na avaliação da direção do PSD, o principal fator que atrapalhou a formação do partido no Estado teria sido uma pressão intensa do governador Geraldo Alckmin. A barreira se refletiu também no número de deputados estaduais: apenas dois em 94 (2%), pior resultado depois de Espírito Santo e, mais uma vez, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

O tamanho e a importância estratégica de uma cidade como São Paulo, dirigida por Kassab, poderia compensar a escassez em números absolutos de prefeituras no Estado. Mas é exatamente exceção e contraponto num conjunto nacional de prefeituras que reúnem pouco eleitorado.

Além da metrópole paulista, o PSD não conquistou nenhuma capital de Estado. O único que estava a caminho, Cícero Almeida (PP), de Maceió, desistiu. Um bom retrato do perfil dos municípios do PSD está no Rio de Janeiro, onde os sete prefeitos são de cidades pequenas: Cambuci, Carmo, Japeri, Mangaratiba, Natividade, Rio Claro e Sapucaia – todas com menos de 50 mil habitantes, à exceção de Japeri, que tem 95.492.

Apesar de não ter conquistado grandes cidades, a principal vitória do PSD foi ter preparado o terreno para as eleições municipais do ano que vem, seu primeiro teste nas urnas. O foco do partido foram prefeitos que têm direito à reeleição. Eles representam de 70% a 80%, de acordo com o levantamento feito pelo Valor. A meta, segundo o secretário-geral, Saulo Queiroz, é lançar cerca de 1.200 candidatos a prefeito e eleger metade deles.

O PSD também conseguiu se ramificar pelo país. Em apenas seis meses, o partido se organizou em 4.608 municípios, quase 83% do total, seja por diretórios ou comissões provisórias. É uma presença que já se aproxima à de legendas que levaram anos para alcançá-la. PMDB e PT lideram neste quesito e estão em mais de 95% dos municípios brasileiros. PSDB e PP estão presentes em cerca de 90%. O PSD ficaria em sexto, atrás do DEM, mas já pode estar em quinto, pelo prejuízo, ainda não calculado, que causou na organização dos Democratas.

Só para efeito de comparação, em 2001, um ano antes de vencer a Presidência da República e de tê-la disputado por três vezes, o PT estava em 72% dos municípios brasileiros e reunia 187 prefeitos.

Paulo Frateschi, secretário nacional de Organização do PT, diz não se surpreender com o fato de sua legenda ser superada pelo PSD em número de prefeituras.

“O PT faz muitas exigências, não permite coligar com este ou com aquele partido. E os prefeitos, na maioria das vezes, preferem ter mais liberdade. No último Congresso, por exemplo, decidimos que o município onde há comissão provisória não poderá participar da disputa municipal no ano que vem. Forçamos que haja eleição interna [para formação de diretório]. O PT, para o bem e para o mal, tem um regimentalismo, com muita vigilância e discussão. Por isso, cresce sempre, mas lentamente”, diz Frateschi.

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