Robinson Faria vai chamar a sociedade para salvar o RN

Governador eleito pelo PSD garante que vai restabelecer os canais de diálogo com todos os setores da sociedade civil para tentar resgatar o Estado da crise em que vive.

30/10/2014

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O governador eleito Robinson Faria

Robinson se elegeu com 877.268 votos, o equivalente a 54,42% do total, contra 45,58% de seu opositor, o atual presidente da Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que estava à frente de uma poderosa coligação de 17 partidos. O governador eleito juntou ao PSD mais sete partidos (PT, PC do B, PP, PT do B, PEN, PRTB e PTC) e fez uma campanha de ritmo vertiginosa, que o levou da segunda colocação no primeiro turno à ponta.

Advogado formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a eleição para o governo do Estado consagra a carreira política de Robinson, potiguar de 55 anos, pai de seis filhos – um dos quais o deputado federal Fábio Faria, também do PSD –, que entrou para a política em 1986, como deputado estadual. Depois disso, foi reeleito mais cinco vezes consecutivas para a Assembleia Legislativa até vencer a eleição de 2010 como candidato a vice-governador na chapa de Rosalba Ciarlini (DEM). Ainda no primeiro ano de gestão Robinson rompeu com a governadora por não concordar com os rumos da administração e foi para a oposição.

Nos três anos seguintes correu o Estado para entender em detalhes os seus problemas e construir uma sólida candidatura. Com a vitória, Robinson resgata uma antiga história familiar, que ele conta nesta entrevista: em 1975 seu pai, Osmundo Faria, deixou de ser indicado governador do Rio Grande do Norte por uma armadilha do destino. 

Qual será a sua primeira decisão tão logo tome posse no Palácio Potengi?

Eu vou restabelecer o diálogo com a sociedade civil para poder propor grande parte das ações que pensamos para salvar o Estado. Quero a participação de servidores públicos, dos sindicatos, do setor produtivo, do judiciário… de todos.

 

Quais são os principais problemas do Estado hoje e como pretende enfrentá-los?

Eu vou cuidar daquilo que é mais urgente no Rio Grande do Norte: segurança pública e saúde. Vamos começar trabalhando para suavizar a situação nessas duas áreas. Eu estudei muito esses dois problemas. Foram temas de debate durante toda a campanha. Vou aumentar o orçamento do Estado para as duas áreas.

Vou dar à segurança pública a prioridade que ela nunca teve no Estado. Vou buscar convênios para investir em tecnologia e projetos que deram certo em outros Estados, como o Ronda Cidadã, do Ceará. Vou colocar mais policiais nas ruas, investir em policiamento preventivo e na polícia de bairro, que aqui é conhecida como Ronda de Quarteirão.

 

Como o sr. vai escolher o secretariado? Pretende criar novas secretarias ou reduzir as atuais?

Durante a campanha prometi que faria um governo essencialmente técnico. É o que vou fazer. Só salvaremos o Estado com pessoas qualificadas, não adiantam as pessoas que vão para o governo por conta de negociação eleitoral ou partidária. Eu vou premiar a competência para reformar o Estado. Vou trabalhar desde o primeiro dia para fazer um governo inovador, ousado, moderno. Não vou governar pensando na próxima eleição; eu vou governar pensando nas próximas gerações. Como disse o presidente Lula, agora é hora de reconstruir a história política do Rio Grande do Norte. Lutarei para ser o melhor governador da história do Estado.

Agora, reduzir ou criar secretarias vai depender do diagnóstico que será feito a partir dos encontros das equipes de transição. Eu estava afastado do governo há quase quatro anos e não conheço o tamanho da máquina que vou herdar. Mas vou enxugar sem castigar o funcionalismo público. Ao contrário, quero valorizar o funcionário público, devolver a ele a autoestima. O que houver de gordura, em serviços terceirizados e comissionados, vou enxugar.

 

Qual foi a importância do ex-presidente Lula na sua campanha e qual será a participação que o PT terá no seu governo?

O presidente Lula foi fundamental na minha campanha. Não só ele como todo o PT do nosso Estado. A Fátima (Bezerra, senadora eleita pelo Estado), os deputados, a militância do PT… foram todos fundamentais para a minha vitória. O PT vai governar comigo.

 

O senhor é tido como um político de perfil conciliador. Como este traço da sua personalidade pode contribuir para a gestão do Rio Grande do Norte?

Governo tem que ter diálogo. Governo que peca pela autossuficiência e não escuta o clamor da sociedade sempre fracassa. Como a minha marca é o diálogo, é o que vou continuar fazendo.

 

Mas teoricamente o sr. terá forte oposição na Assembleia Legislativa. São oito aliados contra 16 deputados de oposição. Como pretende lidar com isso?

Com muita tranquilidade. Nós temos que salvar o Rio Grande do Norte. A Assembleia acaba de ser eleita, renovada, e ela não pode ser contra salvar o Estado. A Assembleia Legislativa é minha casa, trabalhei lá por muitos anos, e então tenho facilidade de dialogar com os deputados estaduais. Não estou dizendo que será fácil, mas estou disposto a dialogar, de uma forma republicana, para que tenhamos uma parceria para salvar o Estado.

 

Como foi a sua entrada no PSD?  

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, conheceu a minha história por meio do Gaudêncio Torquato (jornalista e especialista em marketing político), que é potiguar. Eu fui a São Paulo, conheci o Kassab e gostei muito do seu ponto de vista sobre a política brasileira. Achei um cara sincero, idealista. Ele me convidou a entrar no partido e eu entrei.  

O seu pai, Osmundo Faria, deixou de ser indicado governador do Rio Grande do Norte por uma armadilha do destino. Como foi isto?

Meu pai foi convidado pelo Geisel (Ernesto Geisel, presidente da República entre 1974 e 1979) para ser o governador do Rio Grande do Norte em 1975. Naquela época os governadores eram indicados pelo presidente a partir de uma lista de seis nomes que era feita pela ARENA, o partido do governo. Meu pai não era político. Era empresário, um homem sério, empreendedor, e tinha um defensor intransigente: o ministro do Exército, general Dale Coutinho. Ele indicou e meu pai entrou na lista que era conhecida como Lista do Petrônio Portela (presidente do Senado Federal entre 1971 e 1973 e presidente da executiva nacional da ARENA entre 1973 e 1975). Mesmo sem ser político, foi o mais votado dos seis.

O general Dale levou meu pai a Brasília numa segunda-feira, para conversar com o Geisel, e o presidente pediu para que ele ficasse na capital até a sexta-feira, quando anunciaria ele e mais quatro governadores. Acontece que na madrugada de quinta para sexta-feira o general Dale teve um enfarte fulminante e morreu. O senador Dinarte Mariz (da ARENA, muito próximo dos generais do Planalto), não gostava do meu pai, fez um trabalho intenso e em poucas horas acabou revertendo a indicação. Acabaram escolhendo um nome que nem estava na lista, Tarcísio Maia, um político que tinha sua vida no Rio, havia se candidatado deputado e perdeu. Ele estava distante da política do Rio Grande do Norte, mas tinha amizade pessoal com Golbery (general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil da Presidência da República no governo Geisel), que era muito forte com Geisel. O Rio Grande do Norte foi o único Estado do Brasil que escolheu um governador que não estava na lista.

 

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